segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Nem verdadeiro, nem falso... Muito antes pelo contrário.

Minha resistência em digerir calado algumas das convenções sociais “universalmente” aceitas é conhecida. Antes de ser um mero exercício de polemismo num esforço esdrúxulo para chamar a atenção, é uma discordância natural, pueril. Porém, inútil tentar justificar dessa forma. Quase sempre sou estigmatizado sob o jugo da primeira alternativa. Não que isso realmente conte, afinal, com 44, sei exatamente quem sou e não preciso que ninguém me conte isso. Mas como concluiria o antropólogo alemão Arnold van Gennep no início do século passado, “em todas as sociedades primitivas, determinados momentos na vida de seus membros eram marcados por cerimônias especiais, conhecidas como ritos de iniciação ou de passagem. Essas cerimônias, mais do que representarem uma transição particular para o indivíduo, representava igualmente a sua progressiva aceitação e participação na sociedade na qual estava inserido, tendo, portanto tanto o cunho individual quanto o coletivo. [1] ” E ainda: “Van Gennep fez um estudo sistemático dos cerimoniais que em diversas sociedades marcam a transição dos indivíduos de um status para outro. Assim, ele concluiu que a maioria dos ritos analisados observavam uma sequência que incluía "separação", "transição" e "incorporação".”[1]

Ora,  “vista-se assim ou assado...” ou “só beba isso comendo aquilo...” são meras convenções para manter-nos em consonância com o grupo do qual queremos fazer ou fazemos parte. Hoje... aqui e agora, btw.

Ademais, quem são esses tais “consultores de moda” para dizer-me o que devo ou não vestir? De onde vieram tais conclusões senão do interesse da indústria em normatizar “tendências” com o claro objetivo de reduzir custos definindo a demanda da próxima estação upfront? Se não é assim, pior ainda: que autoridade teria uma Glória Kalil sobre minhas meias ou camisas? 
E misturar leite com manga, pode???  

The devil wears Prada, mas eu visto o que bem entender. 
E há quem goste da combinação “fatal” leite com manga. Eu, particularmente, pulo essa, embora não ostente preconceito algum contra quem aprecie. Aliás, "na verdade, esta é uma combinação bastante saudável. "A manga contém altos teores de nutrientes como o caroteno e a pró-vitamina A - além de ser fonte de vitamina C, fósforo, ferro, cálcio, lipídios e proteína", diz a engenheira agrônoma Elizabeth Ferraz da Silva Torres, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) e autora do livro Alimentos em Questão - Uma Abordagem Técnica para as Dúvidas Mais Comuns. O leite, por sua vez, é rico em proteína, cálcio, vitaminas A e D, riboflavina, fósforo e magnésio. Moral da história: um coquetel de manga com leite garante fartas doses de vitaminas e sais minerais dos mais importantes para o organismo humano."(Fonte: http://mundoestranho.abril.com.br/materia/manga-com-leite-faz-mal).


Para fazer parte da tribo, até fazemos concessões aqui e ali. Mas há um limite. Não devemos misturar convenções com método científico, citando causalidade ou qualquer bulshit pseudocientifica relativa a papilas gustativas ou whasoever para justificar que “com A usa-se B”.
Claro, num restaurante, com o sommelier indicando qual bebida combina com esse ou aquele prato, até concordo! Afinal, o cara está lá exatamente para isso e caso você queira fazer parte do grupo, either way: concorde ou vá pra casa, evitando constranger-se ou constranger outrem no restaurante. (In modern times, a sommelier's role may be considered broader than working only with wines, and may encompass all aspects of the restaurant's service, with an enhanced focus on wines, beers, spirits, soft-drinks, cocktails, mineral waters, and tobaccos. Fonte: Wikipédia). 
Há também outra opção, embora menos acessível: seja multimilionário. Ai, ninguém vai realmente ligar se você pedir um Château Mouton-Rothschild 1982 com banana assada e pequi no arroz, vestido numa calça xadrez a la Agostinho Carrara em pleno verão carioca. Aliás, é bem provável que você saia do lugar tendo convencido a todos de que aquilo é na verdade a mais nobre combinação possível, levando de quebra a fama de excêntrico alardeada nos jornais e revistas pelos bajuladores das colunas sociais e de fofocas.

Sei que vestir-se de preto sob um sol escaldante de 40º, a não ser para ir a um velório,  não é boa escolha. Pior ainda, blusa de couro no verão... parece-me asfixiante. Já usar listras horizontais engorda ainda mais o já gordinho o suficiente. Mas no final, os góticos e punks que sobraram don’t give a damn. E o Faustão... continua amealhando milhões por mês com aquele figurino duvidoso e seu programinha dominical de arrepiar até os mais calmos. 

Fato é que não consigo “acreditar” em toda essa "encenação social" sempre. Preciso simplesmente desempenhar meu papel para manter-me… imperceptível, ajustado ao grupo da vez. No fundo, ainda que  explicações fashion-enólogo-científicas sejam encantadoras, o ridículo ditado popular “gosto não se discute” permanece "franciscanamente" verdadeiro. 


Lembro-me de um show de ‘música contemporânea’ na antiga Praça da Estação em BH onde dois músicos, um no teclado outro no violino, disparavam  - um para o outro - acordes a esmo numa peleja auditiva sem sentido, embora o  título da “obra” fosse extremamente pomposo. Um garoto de rua puxou-me pela calça e disparou:
-          O que é isso? – Disse-lhe eu consternado, após pensar alguns segundos sobre a pergunta:
-          Sei não!!!

Meu irmão costumava misturar café com queijo cortado em cubos e farinha de milho. Só de pensar nessa mistura alguns têm náusea.
Eu mesmo tenho minhas “heterodoxias” (note bem, “hetero…”). 

Concluo teimosamente, então, que faço as combinações de bebida e pratos que eu quiser. Calçando meias brancas e usando bermuda listrada, pra piorar. Desde que não esteja em nenhum restaurante ou fazendo pose para os amigos, tudo bem. 
Porque escondido lá em casa, quem manda no meu gosto sou EU!
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[1] Fonte: Wikipédia

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