domingo, 12 de setembro de 2010

Ética??? Ideologia???

A volúpia política atual enterrou de vez qualquer traço ético/ideológico das campanhas eleitorais. Já não faz sentido algum associar um partido a um ideário; e o "partidão" é sem dúvida o melhor exemplo disso.

Marco Antonio Villa, professor de história da Universidade Federal de São Carlos e autor de "Jango, um Perfil (1945-1964)" (editora Globo), previu isso em ensaio publicado na Folha em 22 de Março de 2005:
“A classe operária não foi para o paraíso, mas os líderes petistas foram. E como. Agora transitam com intimidade entre a plutocracia tupiniquim.
A história do PT incomoda o PT. Enquanto os velhos militantes abandonam o partido, os oportunistas preenchem com avidez as fichas de filiação. Não precisam mais da história ou de qualquer justificativa ideológica. A adesão é pragmática: querem cargos, poder e, se possível, alguma sinecura”.

Um antigo professor de Sociologia dos meus tempos de Newton Paiva, fundador do PT (Obs. : deixou o partido na década de 90, como qualquer "intelectual" fabiano que se preze), disse, também, o seguinte:
Minha tese é que possivelmente estamos vendo a substituição de uma geração excessivamente racional em nossa política nacional. Por conta do lulismo, a oposição só terá vez se for mais emocional, sanguínea, articulando projetos ousados e simples (não um rosário de proposta, mas uma idéia-força) que atraia a nova classe média e dê esperanças concretas que quem está na base da pirâmide social sairá em breve desta condição. Temas da agenda udenista só atraem a classe média tradicional. Nem os mais abastados se preocupam efetivamente com estes temas moralistas. O Brasil mudou e a oposição parece que não percebeu isto.
Que fique claro: precisamos urgentemente de uma oposição forte e popular no Brasil. Caso contrário, o neo-getulismo cumprirá o que o getulismo não conseguiu finalizar.” Rudá Ricci, Sociólogo, Mestre em Ciências Políticas e Doutor em Ciências Sociais.

Pragmático por excelência, até porque sua amplitude intelectual/ideária é circunscrita apenas a seu próprio carisma (nunca ouviu falar de qualquer coisa que demande estudo ou leitura), sua excelência - a cereja, quero dizer, a estrela do partido - é um exemplo da promiscuidade política atual.
Atrelado a um projeto cego de perpetuação no poder e adepto descuidado de Maquiavel (nunca leu “O Príncipe”, though), mutila e despreza a constituição, desdenha leis e instituições, justifica os meios citando os fins.
Pobre de quem cruza seu caminho, será inevitavelmente vítima do aparelhamento e corporativismo partidário da república e da máquina estatal. Terá de levantar a voz solitária e quixotescamente, e esperar ser ouvido em meio à adulteração de provas, invenção de documentos, bodes expiatórios, desaparecimento de fitas de vídeos dos sistemas de segurança, "togas amigas" e mentiras... Muitas mentiras.

Não me lembro na história recente de nenhum presidente / cabo eleitoral mais eficiente que squid. E o projeto é ambicioso: de cima de sua indefectível popularidade, empresta sua cara a candidatos ao Senado (onde provavelmente fará maioria eliminando os opositores de hoje) e aos Governos Estaduais. Proporciona negociatas políticas das mais improváveis, se olhássemos o partidão de 30 anos atrás: apoia Collor em Alagoas, Sarney no Maranhão, Renan Calheiros ao Senado por Alagoas e Waldez Góes pelo Amapá. Esse... esse mesmo que foi preso na Sexta-Feira (10) na Operação Mãos Limpas da PF.
Claro que a tropa de choque cuidará de eliminar os vestígios de mais esse percalço. No final, pode até ser que Waldez receba indulto e retratação pública pelo reles desvio de mais de 300 milhões. (Do PC pra cá as cifras foram sendo banalizadas. Nesse ritmo, antevejo para breve cifras na casa dos trilhões saudadas pela  especializada corrupção nacional).

No entanto, isso deveria ser suficiente para qualquer pessoa de bem reconsiderar o lulismo, ou pelo menos pesquisar, questionar e muito provavelmente abandonar a nau cheia de ratos. Afinal, todos nós (falo de nós, pobres mortais, eu e provavelmente você. Tire a maioria dos políticos fora disso) sabemos o que é honestidade.

Quer uma prova? Imagine uma carteira recheada com notas de cem - com a identidade e o endereço do proprietário - caída na rua. Seria honesto apropriar-se do conteúdo de valor??? Agora imagine que foi VOCÊ quem perdeu a carteira!!!
É... Todos nós sabemos o que é honestidade.

(...)

O lulismo só ainda não conseguiu ser pior que a oposição atual. Essa vence qualquer concurso de incompetência, e não dá pra enumerar quantas trapalhadas são capazes de fazer.
Mas continua a me incomodar que gente boa ainda tente justificar toda essa sujeira. Não sei se depois de traídos pelo partidão transformaram-se em sectários (e ai não há necessidade de justificação, é mais uma profissão de fé... Usem Tiago em 2.21,24,25 e juntem-se aos pastores das igrejas picaretas. Todas!), ou se estão apenas à espera de alguma sinecura. Mas é preocupante que gente pensante - que deveria pensar - apenas trate política como um jogo de futebol, onde derrotar o adversário é o fim em si mesmo.
Não se trata da situação e dos contras, todavia. Não deveria ser tão simples. Trata-se de para onde queremos ir depois de tudo isso.
Ou viramos todos pragmáticos, ignorantes, sem ética ou ideal, ou exigimos algo mais.

Cito Hannah Arendt como mais um argumento de autoridade:
“(...) O maior perigo de reconhecer o totalitarismo como a maldição do século* seria a obsessão por ele, a ponto de gerar cegueira em relação aos numerosos males menores e não tão menores assim que pavimentam o caminho para o inferno.” Essays in Understanding, p.271-72

Pra terminar provoco com uma pergunta: se os fins justificam os meios, o que exatamente justifica os fins???

Pensem...pensem...

*Século passado (NA).

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